Fome emocional – quando a comida regula as emoções!

 

Será certamente fácil para qualquer um de nós lembrar-se de episódios das nossas vidas em que utilizámos a comida para compensar estados emocionais menos agradáveis (por exemplo, comermos chocolates quando estamos mais nervosos ou tristes), ou pelo contrário, para celebrarmos momentos felizes (por exemplo, escolher o nosso prato favorito para festejar um acontecimento).

De facto, esta conceptualização da alimentação enquanto estratégia de (auto)regulação emocional tem vindo a ser foco de grande interesse científico, dando origem ao termo “fome emocional”.

Mas então, tratando-se da fome um fenómeno fisiológico, como é que esta passa a ser uma questão emocional?

Para respondermos a esta questão, importa primeiro explicar que a fome fisiológica consiste na necessidade urgente de comida, no sentido de suprir essas necessidades energéticas e nutricionais necessárias ao bom funcionamento do nosso organismo. Esta sensação de comer é desencadeada por mecanismos homeostáticos e cognitivos mediados pela hormona grelina, produzida pelo estômago após períodos de jejum.

Por sua vez, a ingestão alimentar provoca uma sensação de prazer, através de processos bioquímicos relacionados com a libertação do neurotransmissor dopamina. Esta hormona é um elemento central na estimulação do sistema de recompensas e tem vindo a ser estudada pela sua relação com os comportamentos aditivos. Ou seja, quanto maior a produção de dopamina, maior probabilidade de repetirmos o comportamento que desencadeou essa estimulação.

Quer isto dizer que, por via deste sistema neuroquímico de recompensa, aprendemos que a ingestão de alimentos ricos em açúcar e gorduras se traduz numa sensação imediata positiva (satisfação, prazer, bem-estar…), levando-nos a procurá-los quando estamos mais vulneráveis emocionalmente (sob stresse, tristes, frustrados, desmotivados, apáticos…).

Não obstante, este mecanismo compensatório não se trata de uma estratégia eficaz para gerir estados emocionais desagradáveis, uma vez que a sensação positiva e prazerosa é momentânea, não resolve a situação geradora de mal-estar e pode mesmo desencadear outros problemas, tais como, obesidade e perturbação aditiva ou perturbações alimentares e de humor.

Em síntese, a fome emocional trata-se de um desejo, que surge subitamente com a intenção de suprimir mal-estar emocional, sendo por isso independente das necessidades energéticas e nutricionais do indivíduo e a não satisfação deste impulso não desencadeia sintomas físicos. Por outro lado, a fome fisiológica trata-se de uma necessidade vital, que surge de forma gradual, ocorre quando há necessidades energéticas e nutricionais, a não saciação pode causar dor de cabeça, de barriga e fraqueza, e não é seletiva (pode ser suprida por qualquer alimento).

Posto isto, deixamos um conjunto de estratégias eficazes para gerir a fome emocional:

  • Coma frequentemente (em intervalos de pelo menos 2 horas 30 minutos);
  • Beba água frequentemente;
  • Tenha alimentos saudáveis disponíveis;
  • Preste atenção ao seu corpo e à degustação dos alimentos enquanto os come;
  • Literacia nutricional – leia sobre os alimentos, procure saber mais sobre eles;
  • A prática de exercício físico também estimula a produção de dopamina e faz parte de um estilo de vida saudável.
  • Procure ajuda psicológica para desenvolver literacia emocional e identificar estratégias eficazes de autorregulação emocional.

 

A equipa da Psiquiatria Positiva pode ajudar!


Fonte: www.shutterstock.com

 

01 de maio, 2023